BICENTENÁRIO: PARA COMEMORAR E REPENSAR

Quando eu me punha a escrever para o espaço de Eu conto pra você deste sábado, me peguei invadida por inúmeros fatos que marcaram a semana, dentre os quais três muito fortes. Dois, no cenário mundial: a guerra que persiste entre Rússia e Ucrânia, já transcorridos seis meses, e já com tantos e nefastos males daí oriundos; também a morte, no dia 30 de agosto, do estadista e político russo, Mikhail Gorbachev, o oitavo e último dos líderes da União Soviética, Prêmio Nobel da Paz por suas investidas em função do fim da Guerra Fria, assim reduzindo infrações aos direitos humanos e outras atitudes por um bem maior entre os povos; e, o terceiro fato, não é outro senão o que ocupou a mídia nos últimos tempos, o do Bicentenário da Independência, agora, o foco do nosso encontro. // Inicialmente, registre-se que a independência teve início muito antes de Dom Pedro I proclamá-la: começou quando o seu pai, Dom João VI, tão logo em solo brasileiro, pôs em execução acordos com a Inglaterra por contrapartidas estabelecidas por Portugal. Assim, Dom João deu por abertos nossos portos às nações do mundo, fato que passou a gerar rendas ao Brasil, principalmente aos grandes da elite brasileira. De toda forma, era uma independência que se iniciava. Outro marcante fato de independência pode-se ver nas atitudes de Dom Pedro I que se rebelava contra as Cortes que lhe exigiam retornasse a Portugal, deixando o Brasil sob uma junta administrativa que elas mesmas cuidariam de formar. Foi, então, em meio a uma crescente pressão, que Dom Pedro I tudo fazia para aqui permanecer, esforçando-se para diminuir a dependência brasileira do poderio lusitano. Neste sentido, ia agindo o Príncipe Regente, até que, com apoio dos que também desejavam ver o Brasil longe do jugo português, decidiu não se ir do Brasil, e, em 9 de janeiro de 1822, Dom Pedro I reafirmou que permaneceria conosco, momento que se consagrou como o Dia do Fico. Na sequência de seus bravos feitos e contando com um bom grupo naqueles trabalhos, exemplo o de José Bonifácio, em quem dom Pedro via um conselheiro para fins políticos, estabeleceu que nenhuma ordem que viesse de Portugal fosse cumprida sem que tal ele permitisse. // São, essas, apenas algumas breves ilustrações a apontar que a independência do Brasil do jugo português aconteceu, gradativamente, o ponto máximo alcançado no dia 7 de setembro às margens do rio Ipiranga, tornando-se o Brasil uma nação independente de Portugal. E, marcante para a história, desde 1946, lei federal tornou a data um feriado nacional. // De fato, o Bicentenário da Independência merece comemoração, motivo pelo qual tantos eventos vêm acontecendo. Interessante destacar alguns: a vinda do coração de Dom Pedro I, órgão que se encontra embalsamado em um frasco de vidro com formol há 187 anos. Em Portugal, ele permanece guardado na Igreja de Nossa Senhora da Lapa, na cidade do Porto, e para lá retornará dia 8 de setembro; também merece destaque a reabertura ao público, no mesmo dia 8, do Museu do Ipiranga, fechado para reforma desde 2013, devido à constatação de problemas em sua estrutura. Tombado pelo Patrimônio Histórico Municipal, Estadual e Federal, o importante edifício-monumento agora está restaurado, pronto a permitir, com seu rico acervo, grande parte do conhecimento da história do Brasil; também em São Paulo, são destaque os mais de 200 pontos com eventos apresentando teatro, música e cinema e outras artes, a partir de iniciativa da Prefeitura; também a bastante aguardada remontagem histórica com encenação do Grito do Ipiranga no Parque da Independência, além do desfile cívico-militar com participação das três Forças Armadas, da Esquadrilha da Fumaça e dos Dragões da Independência. Já em Brasília, o Bicentenário da Independência terá sessão solene no Congresso Nacional, com presença do Presidente Jair Bolsonaro e de vários chefes de estado do Brasil, outras autoridades, além das que virão de Portugal e de outras nações ex-colônias portuguesas, como Guiné Bissau, Cabo Verde e Moçambique. Na ocasião, será aberta a exposição “200 anos de Cidadania: o Povo e o Parlamento, com visitações do público de 10 de setembro até 1º de dezembro.// Em meio a tantos eventos pela comemoração do Bicentenário da Independência do Brasil, a sociedade, todos nós, devemos aproveitar o momento para uma recapitulação do que de fato temos alcançado e que possa, mesmo, ser considerado independência, nossa, enquanto nação e enquanto cidadãos com reais direitos. Urge maior interesse na luta por defesa do bem coletivo, de forma a impedir que representantes do povo pensem apenas em si mesmos, à revelia de quem os colocou no poder. Possam os eventos e o acervo histórico, despertar em todos nós maior censo crítico e interesse para o conhecimento, fazendo-nos sempre alcançar maior autonomia de ser e no agir. // *** (Vitória, 03 de setembro de 2022. Tempo: 07:00) - Crônica para a Rádio Integração, de Antônio Dias/MG *** Você ouviu Margarida Drumond de Assis. Sou escritora e jornalista, semanalmente com você, por meio de crônicas e outros textos literários. São de minha autoria, dentre outros, os livros Além dos versos e Da página ao palco: estudo e transposição de linguagem de O espelho, de Machado de Assis, a partir do qual exponho a técnica apropriada para tirar um texto literário do papel e fazer dele a encenação teatral. Contatos: 61 9 8607-7680 margaridadrumond@gmail.com www.margaridadrumond.com (Tempo 0:53)

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