A 91ª Feira do Livro de Lisboa 2021, conhecimento, emoção e aproximação (crônica de Margarida Drumond de Assis)

Seguíamos a vida, ainda ensimesmados nos contatos uns com os outros, aproximávamos meio que receosos devido à pandemia do novo coronavírus, e eis que chega o tempo de um evento do outro lado do oceano, em terras lusitanas: do dia 26 de agosto a 12 de setembro, aconteceria a 91ª Feira do Livro de Lisboa – 2021. Daí, escritores e escritoras, poetas, todos os literatos em geral e os amantes da cultura movimentavam-se felizes na expectativa do evento. Afinal, a realização de um evento que duraria dezoito dias sinalizava que muitas coisas aconteceriam. Além de lançamentos de livros solo de autores oriundos de vários lugares; de Coletâneas; palestras; recitais; e performances outras ações invadiriam o lindo espaço que sediava, em Lisboa, o importante evento. E tudo nos chegaria, em imagens, nas telas de computador ou celular. Assim, mudou-se o foco, e as pessoas ligadas a esse meio, que já quase não saíam de casa, a não ser para os compromissos agendados previamente, deixaram-se ficar a assistir ao que ocorria na Feira do Livro na linda capital portuguesa. Olhos e ouvidos voltados para a telinha de um computador ou mesmo do celular permaneciam atentos, e, em meio a tanta gente mundo afora, notadamente nos países de língua portuguesa, havia pessoas com deficiência ou para ver ou ouvir; e a Feira literária também os atraía. Foi então que veio a notícia de que o evento seria inclusivo, estando escritores, poetas, professores, atores, atrizes e outros voluntários da inclusão social dispostos a fazer a transmissão em Libras e Audiodescrição. A Rede Sem Fronteiras, presidente Dyandreia Portugal, por meio de sua equipe e amigos se unia nesse atendimento, de forma que o Grupo da Inclusão Social Brasiliense, com o dinamismo da Academia Inclusiva de Autores Brasilienses – AIAB, presidente Dinorá Couto Cançado, facilitava a comunicação para quem necessitasse de apoio para ouvir ou ver. No comecinho, nem todos conseguiram acessar o link que levaria aos palcos da relevante Feira: além da internet nem sempre favorecendo, acontecia o pouco entendimento tecnológico de muitos, mesmo considerando que, desde o início do isolamento social, em março de 2020 devido à pandemia, a tecnologia começou a se tornar mais familiar. E havia viagens, compromissos a impedir a participação. Eu mesma, que já estava com o lançamento da Série de meus três livros de crônicas “Dom Luciano, pastor e irmão”, agendado para o dia 27 de agosto, em São Paulo, capital, no início não pude participar de tudo quanto eu queria. Entrava em um ou outro momento, mas saía logo. Enquanto isso, eu via o grupo da inclusão social se movimentando para participar e também incentivando a que outros o fizessem; alguns até se punham a fazer a audiodescrição. Fato é que, bem interessada em todo aquele movimento, mesmo eu estando no interior de um hotel, no dia 29 eu me fiz presente como presidente da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil, Coordenadoria Distrito Federal. Era o dia da participação da AJEB/DF, por meio da Rede Sem Fronteiras, lançando na Feira de Lisboa, ao lado de parceiras ajebianas, a Coletânea “A vida é feita de histórias”. Felizmente, tudo deu certo, inclusive cumprimos os exatos cinquenta minutos a que tínhamos direito. Os dias se passando e, no último do mês, consegui iniciar minha colaboração fazendo audiodescrições de um e outro evento. E eram lives fantásticas, falando da importância dos livros, da criação literária, da leitura; do acesso a Bibliotecas, das iniciativas em prol de maior acesso, na Praça, em parada de ônibus e outros. Quanto me senti comovida ao ver o que relatou o professor e escritor Augusto Lopes na live do dia 9 de setembro, com o tema “A força da Leitura e da escrita para a formação e o desenvolvimento”! Em um momento em que as pessoas se manifestavam no chat, e eu lá, fazendo audiodescrição, de repente Augusto assim escreve: “Trabalho num colégio aqui em Genebra, Suíça e, desde o ano passado, criaram o programa: Silence, on lit (Silêncio, estamos a ler). 95% das turmas aderiram e durante 45 minutos todos os alunos leem”. Maravilhosa iniciativa que, evidentemente, desejamos o Brasil tenha em breve. Basta uma maior sensibilidade dos professores da Língua Materna, valorizando o hábito da leitura. Ler em casa para um trabalho escolar, sim, é bom, mas por que não introduzir essa prática em sala de aula também? Acredito que seja mesmo estimuladora. Enquanto isso, continuei a audiodescrição, participando na sequência a escritora Stela, escritora que eu assim descrevia: “Mulher branca, olhos escuros, cabelos castanhos e curtos. Ao lado dela, uma estante que comprova seu amor aos livros, à biblioteca da qual está falando. Parecem livros bem manuseados”.Ao mesmo tempo vejo a querida Zilda Pires colocar no chat: “Rio Verde, Goiás, tem um projeto da Fundação Municipal de Cultura : Livro na Praça. É muito gratificante você incentivar as pessoas ler”. Nos chats, pululam manifestações, e eu às vezes não sabia se lia, se ouvia quem estava participando ou se registrava o que via; nossa, era muita emoção e sei que bem as viveu, por exemplo, Carmem Gramacho, colega da Inclusão Social, também de Brasília, ao fazer suas audiodescrições, ela, sempre atenta e participativa. No dia 11 de setembro, véspera do encerramento da 91ª Feira do Livro de Lisboa, Dyandreia fazia o lançamento da Parte 2 da sua brilhante “Coletânea Sem Fronteiras pelo Mundo”, Vol. VI, parte 2. Mais uma live da qual eu não podia me abster de assistir: uma das coautoras naquele volume; e ele correrá mundo, principalmente circulará nos países lusófonos. Do lado de cá da telinha, participantes diversos da Coletânea a tudo assistiam atentos e ansiosos, pois, a partir de um sorteio, um e outro entravam para, rapidamente, fazer uso da palavra. Tão logo acessei a live, vi que ninguém se prontificara para a audiodescrição, o que logo passei a fazer, embora tivesse de permanecer atenta ao que ocorria; afinal, era uma coautora naquela publicação. Ouço; vejo; escrevo; vibro com os comentários de vários no chat; alegro-me por sentir um pouco próxima de muitos, pela tecnologia: ali estavam amigos e amigas que eu não via há tanto tempo, devido à pandemia que impossibilita eventos; também se manifestavam queridos membros de organismos culturais; amigos; e familiares meus. Pelo chat, eu os sentia e me alegrava por suas presenças. Subitamente, me pego ainda mais encantada com a participação dos amados usuários da Biblioteca Braille Dorina Nowill, de Taguatinga – Brasília/DF, da sua equipe coordenadora, entre eles Noeme Rocha, vice-presidente da AIAB, por meio de quem cumprimento esses guerreiros amigos deficientes visuais; e há comentários positivos de escritores, como os da escritora ajebiana Nina Fernandes e Álvaro Luiz Cardoso dos Santos, para quem eram magníficas as minhas audiodescrições, e eles, naturalmente, acompanhavam concomitantemente com a própria participação. Prossegue a live que, em seu finalzinho, de repente nos mostra Dyandreia anunciando o último sorteio, ops, sorteara o meu nome. Então anuncia: “Margarida Drumond” Paro e abro a tela e o microfone de meu computador, conforme a querida ajebiana, Presidente da Coordenadoria do Rio de Janeiro, anunciava. Então, registro minha alegria por novamente participar da Coletânea de sua organização; cumprimento-a pelo magnífico trabalho com o qual tivemos maior acesso e participação no evento, mais nos aproximando de nossos irmãos de língua portuguesa; e aproveito para ler os últimos parágrafos do conto “Marcante lembrança” (págs 467-469), com o qual participei. Quanta emoção. Posteriormente, em uma olhadela no celular, constato que a querida amiga Marina Zarvos, AJEB/SP, registrara em foto a minha participação. Como é bom ter pessoas que nos amam e pensam em tudo! Ao concluir estes registros sobre alguns dos momentos que movimentaram a 91ª Feira do Livro de Lisboa 2021, com espetaculares participações e tantas emoções, nosso reconhecimento à querida amiga, escritora Profª. Dinorá que, mesmo debilitada subitamente e tendo de se ausentar, se manteve atenta e colocando uma e outra colega em seu lugar para que nada faltasse aos nossos amigos deficientes visuais. Tudo isso nos faz ver que todas as lives, aquelas que já assistíamos antes da Feira, durante ela, também as que continuam, todas têm mostrado quanto podemos estar próximos uns dos outros, promovendo a integração, o conhecimento e a socialização. E tudo isso tem sido muito bom. São muitos os que vão se sensibilizando: em em nosso grupo mesmo, vários nomes estão presentes quase todo o tempo: o psicólogo João Bezerra; Sr. Eloy; várias escritoras e professoras, Girlane Florindo, Leonilde (Leonna) e Renata da Bibliobraille, o Marquinhos, Almerinda Garibaldi, Alessandra Alexandria, Salete, Nádima e tantas que passei a conhecer agora nos últimos meses, a Celinha Machado, Mara Parrela, dentre outras, todo mundo se unindo à Dinorá, na AIAB, como facilitadores de um melhor viver de amigos que merecem nossa atenção e carinho. Sem desmerecer a presença e participação de ninguém, aqui ressalto alguns nomes, por meio dos quais abraço a todos os outros, Adma, Ricardo, Aparecido, Sidney Castro, Teodora, Fátima e Veridiano. Prossigamos a caminhada. Desconhecemos até quando ser-nos-á dada a chance de proporcionar o bem do outro, principalmente daqueles que estão mais próximos de nós; pode ocorrer de a parada, na qual tenhamos de deixar o bonde, estar bem ali. O mundo pode ser melhor se nele permanecermos juntos, nos respeitando e nos amando.

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